Artigo baseado no documentário "Meninas"
Lembro-me da minha infância como
se fosse ontem. Brincávamos de fazer “cabaninhas” com pedaços de troncos no
meio do mato. Cobríamos o teto das “cabaninhas” com lonas velhas e achávamos
que estávamos construindo mansões. Nós adorávamos isso! Usávamos umas bonecas
velhas e dizíamos que eram nossas filhas. Fazíamos até jantares especiais
regrados com uma plantinha que aqui em Minas chamamos de “Azedinha”. Eu era
louca com a Barbie, mas como minha mãe não podia comprar, eu tinha que me
contentar em brincar com um pedaço de uma embalagem que tinha a foto da boneca.
E não me importava com isso, pois na minha imaginação eu inventava muitos
contos de fadas. Lembro-me da casa da minha avó, onde eu e meus primos subíamos
no pé de goiaba e no pé de manga. Era o máximo! Parecia que estávamos escalando
montanhas! O que eu posso dizer é que, apesar de ter perdido meu pai com 7 anos
de idade, a minha infância foi inesquecível! Brinquei de boneca até os 13 anos
de idade e não tenho vergonha disso. Hoje as meninas nessa idade brincam sim,
mas são com “bonecas” vivas.
Eu
fico extremamente chocada com o que vem acontecendo com as crianças e
adolescentes atualmente. Antigamente,
com os meus 14 ou 15 anos, lembro-me que uma paquera durava semanas ou até
meses. E isso ficava só na troca de olhares e sorrisos mesmo. Era um jogo de
conquista maravilhoso, aquela inocência de chegar da escola e ficar imaginando
o rosto e o jeito do garoto. Hoje em
dia, as meninas, nos seus bailes da vida, já vão logo para a cama dos garotões.
Esquecem de sonhar como uma garota normal. Esquecem que ainda são “meninas”
apesar de terem os corpos desenvolvidos como o de uma mulher. Aí voltam a
brincar de bonecas depois de 9 meses. E quando dizem que “amam” o fulano, aí
depois de 1 mês já “amam” o outro cicrano? Meu Deus, o que elas entendem de
“amor” de uma mulher para com um homem? Elas nem têm experiência em
relacionamentos duradouros para saber o que é um verdadeiro “amor” de casal. E
nem ouviram falar que relacionamentos não são baseados apenas em amor ou paixão.
São também baseados em respeito, confiança, amizade e união.
A
sociedade e a mídia acham normal uma adolescente se portar como se fosse uma
mulher. Até incentivam isso! É só ver as novelas que percebemos os exemplos.
Então, as meninas e adolescentes querem ser como a “gostosona” da novela das
oito. As meninas de 13 já usam esmaltes vermelhos e toda a sensualidade como se
fossem uma mulher de 27 anos. E os
meninos e homens adoram isso. “Pegar uma novinha é massa”, dizem. Só que quando
a barriga da novinha começa a crescer, entram em desespero ou então,
simplesmente fogem da realidade. O que está acontecendo é que os jovens não
estão preparados emocionalmente e nem financeiramente para assumir a
responsabilidade de criar um bebê. Com isso é gerado outros problemas como
abortos, a saída da casa dos pais, o abandono dos estudos e do próprio bebê. De
acordo com a ONU, 220 mil adolescentes no mundo engravidam todos os dias.
Segundo o IBGE em 1996 no Brasil, 6,9% das garotas de 15 a 17 anos já eram
mães. Esse número subiu para 7,6% em 2006. Segundo a pesquisa, as mulheres
adultas esperam mais tempo para terem filhos enquanto as adolescentes estão
tendo mais filhos.
A
geração de jovens e adolescentes atuais encontra-se com os valores éticos e
morais desgastados. Um excesso de liberdade e informações levam esses jovens a
banalizarem assuntos como o sexo. E essa liberação sexual juntamente com uma
certa falta de limites e responsabilidade favorecem a incidência de gravidez na
adolescência. Outro motivo que eleva essa incidência é a desestruturação
familiar, onde temos pais sem tempo para dialogar, dando aos adolescentes uma
liberdade sem responsabilidade. Os adolescentes passam a não dar satisfações de
sua vida diária para os pais e só os procuram quando o problema surge. A
desinformação e a fragilidade da educação sexual no Brasil também são questões
problemáticas. A maioria das escolas brasileiras só preocupa em ensinar
matérias cobradas no vestibular do que discutir com os alunos questões de cunho
social. Assim, assuntos como gravidez, sexualidade, drogas, educação ambiental
entre outros ficam somente em projetos esporádicos. Os professores e as escolas
preferem ensinar uma equação de 2º grau, que o adolescente provavelmente nunca
usará na vida, do que conscientizá-lo sobre essas questões de cunho social. O
governo se limita às pouquíssimas campanhas que não se preocupam pela
conscientização dos adolescentes, apenas pela informação do uso da camisinha.
Isso não basta! Diante dessa realidade brasileira o número de pais e mães
adolescentes cresce a cada dia.
Tá
certo, estou velha mesmo e careta com os meus 30 anos! Mas, pelo menos eu vivi
a minha infância e adolescência podendo parar de brincar de casinha na hora que
eu quisesse. Era só guardar a minha boneca e pronto! Ao contrário da realidade
dos nossos adolescentes que “casam” e acham que estão brincando de casinha e
cuidando de bonecas de verdade. Eles brincam
e podem nunca mais deixar de fazer isso. Por isso eu imploro: Pais, não adianta
“socar” filhos neste mundo! Pensem no futuro e na educação que querem dar para
os seus filhos! Não deixem suas crianças gerarem outras crianças. Estamos na
vida real e não em uma brincadeira de casinha!
Documentário "Meninas"
Obs: Um dos melhores documentários brasileiros que já vi! Vale a pena ver!
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